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O Moço Bonito


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Às vezes, gosto de descer no meio da tarde e tomar um cafezinho no buffet maravilhoso que tem no prédio em que trabalho. Só que o buffet é daqueles que te faz pensar duas vezes antes de pegar a comanda, sabe? Porque são os DOIS OLHOS DA CARA. Geralmente, desço no dia em que o pensamento intrusivo do “eu mereço” está ressoando em minha mente. Sempre pego a mesma coisa: ovo, cuscuz com calabresa, queijo coalho e um café bem forte — bem fia de nordestino, né?


E quase sempre, o moço bonito está lá.


Não é possível que ele tenha tanto vale-alimentação assim. Deve ser dono do restaurante ou dono de algum escritório por ali... ele tem cara de gente importante.


O moço bonito nunca está com pressa. Eu sempre termino meu café primeiro e vou embora, enquanto ele continua lá, saboreando cada gole do seu expresso. Será que ele tem muito tempo livre, ou sou eu que não sei apreciar a vida como ele? Este texto era para elogiar o moço bonito, mas sinto que estou indo para outro rumo. Talvez seja inveja.


Tudo que ele faz é bonito. O jeito de pegar na orelha, pôr a mão no queixo enquanto fala, levantar a sobrancelha... tudo com uma calma ensaiada, como se fosse uma dança. Ele está sempre impecável: calça e camisa sociais bem passadas, cabelo e barba perfeitamente alinhados. Os óculos de grau, num tom alaranjado, combinam com a barba ruiva. Parece que tudo nele foi meticulosamente planejado. Um detalhe de rebeldia complementa essa perfeição: o braço direito tatuado.


Mas... sinceramente? Eu espero nunca precisar conversar com o moço bonito.


Acho importante termos uns seres humanos assim, que sejam personagens na vitrine da nossa imaginação. Inventar na minha cabeça que ele pode ser o dono do prédio, que chega de helicóptero e está sempre tomando seu cafezinho neste mesmo horário esperando seu piloto particular para pegar seu voo, é muito mais legal do que imaginar que ele sai às 18h e pega engarrafamento para Águas Claras.


Porque, convenhamos, ninguém é assim tão perfeito. Às vezes, ele deve ter chulé ou uma produção absurda de meleca no nariz (moramos em Brasília, o climão aqui não ajuda). Quem sabe ele é grosseiro e não dá bom dia no elevador?


Não sei e nem quero saber. Só quero que ele continue sendo o moço bonito do café, enquanto eu engulo meu cuscuz com ovo.


2 comentários

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danielepessoa80
24 de out. de 2024
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Eu até viajei na história 🤎

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Convidado:
18 de out. de 2024
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

🤭🤭🤭 amando as histórias

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