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Nº 02 - Amor Líquido


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As vezes eu acho que tem uma placa invisível colada na minha testa escrita: “Essa aqui quer relacionamento sério, corra!”


Desde o divórcio, minha vida amorosa parece uma sequência de trailers mal editados: começa promissor, tem uns minutos bons e depois desanda geral. Sempre tem um plot twist bizarro no final, tipo “ele voltou com a ex”, “ele vai embora para os Estados Unidos” (desculpinha, né) ou o clássico “não estou pronto para relacionamento”. Sério, o que tem acontecido com os homens desse mundo?


A real é que eu tô cansada. Cansada de sair para jantar e parecer que tô numa entrevista de emprego. Cansada de homens que confundem intimidade com nudes no WhatsApp. Cansada de forçar empolgação onde só existe carência mal disfarçada.


Outro dia li aquele livro do Bauman, “Amor Líquido”, e foi como um soco na barriga. Sério, deu vontade de chorar. Porque é isso. Tá tudo raso. Tudo gelado. A gente vive numa sociedade onde ninguém se esforça mais para criar vínculo. É tipo conexão USB: plugou, usou, saiu. Ninguém se olha no olho. Ninguém pergunta “tá tudo bem de verdade?”.


E eu… eu sou profunda demais para essa pressa toda.

Depois de tantos dates furados, eu percebi que talvez o problema possa ser eu e meu dedo podre. Ou, quem sabe, minha cidade. Acho que não tem homem aqui para mim, não.

Ah, e como se tudo isso fosse pouco, fui demitida. Sim, a cereja do bolo. Sabe quando o universo manda aquele recado bem direto? “Vai embora, mulher!”


Minha amiga me chamou para ir para a Irlanda fazer intercâmbio. Já imagino meditando nas planícies, passeando pelas cidades que são tão lindinhas que parecem cinematográficas. Olha… tô a um boleto de vender meu carro e comprar uma passagem só de ida. Não tem mais nada me prendendo. Nem trabalho, nem homem, nem ânimo.


Minha amiga e eu começamos a visitar agências de intercâmbio e eu tô começando a sentir um friozinho bom na barriga. Aquele medinho de coisa nova. Pensei até em fazer curso de bartender ou barista, já imaginando chegar profissionalizada lá. Já até estou sonhando com cafés nublados, sotaques diferentes e um tal de recomeço me esperando na porta.


E quer saber, diário? Tô aprendendo a ficar sozinha. Mas de verdade, não da boca para fora. Não fingindo plenitude no Instagram. Tô vivendo meus silêncios, dirigindo meu carro com a música no volume máximo, sem me importar com o julgamento de ninguém. Estou aprendendo a conviver com minhas inseguranças e curtindo. Semana que vem, vou até para uma balada sozinha. Não é fácil, mas tudo começa com uma pisadinha no acelerador. Só precisamos sair da inércia.


Pela primeira vez, acho que tô me escolhendo. Não porque me sobra, mas porque me basta.

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