Nº 04 - Não entendi nada

 Hoje eu tenho ótimas notícias: eu consegui um emprego. Uhul! Estou muito feliz. Eu não aguentava mais ficar em casa sem fazer nada. Tudo bem que foram só seis meses, mas parecia uma eternidade. Eu amo trabalhar, amo ter rotina, amo ter propósito.

Como eu tinha vendido meu carro, porque né, eu ia fazer o intercâmbio e acabei não indo, decidi fazer algo que me desse mais flexibilidade na vida: morar perto do trabalho. A ideia era perfeita. Sem depender de carro, sem depender de ninguém, só das minhas perninhas me levando pra cima e pra baixo, no máximo uma bicicleta ou um Uber. O plano dos sonhos, certo? Pois é… para o Felipe, não.

Eu realmente não entendi, mas ele ficou bem revoltado quando eu contei que tinha decidido morar sozinha. Disse que agora eu não estava mais só, que eu deveria ter consultado ele. E ainda soltou que eu só sairia da casa dos meus pais quando fosse casar com ele. Oi? Temos cinco meses juntos. Eu já fui casada. Eu sei o peso de dividir teto. E ele vem com essa conversa. Fiquei muito transtornada. Ele ficou bravo comigo, como se eu tivesse traído um pacto que eu nem sabia que existia.

Mesmo assim, passei por cima do que ele achava melhor para mim e resolvi me mudar. Ele surtou. Disse que eu era egoísta, que só pensava em mim. Que eu queria distância. Que isso era um absurdo.

Mas sabe o que aconteceu? No dia da minha mudança, depois de todo o inferno que ele fez na minha cabeça, ele simplesmente apareceu no meu apartamento e anunciou que iria morar comigo. Disse que já que eu tinha decidido aquilo, ele não queria me deixar sozinha, que precisava cuidar de mim.

Eu fiquei completamente sem reação. De verdade. Só consegui soltar um “ok”. O Felipe é muito impositivo às vezes, e eu fico com receio de confrontar. Ele tem ansiedade, igual a mim, e eu fico com medo de criar gatilhos nele. Parece que eu sempre estou equilibrando uma linha fina entre paz e tempestade.

Só espero que a gente consiga viver bem. Espero, de verdade, que isso seja o início de um relacionamento maduro, leve e cheio de companheirismo. Torça por mim. Acho que vou precisar.