Calcinha
- Jé Calado
- 9 de out. de 2024
- 2 min de leitura

Eu sou uma pessoa meio desapegada das coisas sabe. Ao mesmo tempo que gosto de tê-las, também não me importo muito se não as tenho. Uma alma livre, bicho sooooolto. Sabe como é? Mas essa liberdade eu fui descobrindo aos poucos, vivendo a vida.
Logo após me divorciar (pela primeira vez), decidi fazer minha primeira viagem sozinha. Eu tinha 26 anos e era muito verdinha na vida. Nunca tinha ido a uma balada sozinha, nunca tinha dado um PT daqueles. Minha terapeuta na época dizia: "Jessiquinha, você vai viver sua juventude agora". E foi exatamente o que aconteceu, meus amigos.
Minha primeira grande aventura foi no Rio de Janeiro. Bem, tecnicamente, não fui completamente sozinha. Fui com meu amigo de alma, Jairo. O Jairinho é aquele amigo que, às vezes, é um pai; outras, a maior má influência da sua vida. O equilíbrio perfeito.
Essa viagem rendeu várias histórias, mas vou me concentrar em uma noite específica de um pré-bloquinho de carnaval. Estávamos no centro do Rio de Janeiro, já com algumas Skol Beats na cabeça, acompanhando um bloquinho de carnaval noturno. Eu, Jairo e uma galera que conhecemos no hostel onde estávamos hospedados, em Ipanema.
A turma era bem eclética: eu, uma jovem cristã que mal tinha vivido, Jairo, que já tinha vivido tudo e mais um pouco, uma menina zen, esotérica e linda que exalava tranquilidade (vamos chamá-la de Lari), três argentinos e duas argentinas.
Depois de um tempo dançando no bloquinho, naquelas típicas bagunças de carnaval, Lari começou a se engraçar com um dos argentinos. Confesso, bateu até uma invejinha, porque ele era um dos mais GATOS do hostel. Mas beleza, é carnaval, né? Alegria, pegação, aquela coisa toda. De repente, Lari vira para mim e para o Jairo e solta:
– O argentino quer ir comigo pro hostel mais cedo.
Eu e Jairo, em coro: VAAAAIIIIIIII, MENINA!
– Mas, amigos, estou com uma calcinha bege. Não rola. Vai ficar feio na hora...
Agora, eu não sei o que deu na minha cabeça naquele momento. Talvez fosse a Skol Beats, talvez o calor do carnaval, mas me lembrei que estava usando uma calcinha vermelha e achei que seria uma ótima ideia oferece-la para uma completa desconhecida.
Na hora, sem pensar, soltei: "NÃO SEJA POR ISSO! Pega a minha calcinha, é vermelha!" E comecei a tirar para entregar.
Na minha cabeça, aquilo fazia todo o sentido. Só na minha cabeça, né? Porque, convenhamos, quem empresta uma calcinha assim do nada?
O Jairo, desesperado, começou a me impedir: "Veste, veste, veste, não precisa disso, maluca!" E a Lari... Bom, ela olhou pra mim, riu e disse: "Quer saber? Vou é com a minha calcinha bege mesmo! Quem tem que gostar sou eu, não ele!"
Eu caí na risada. Ela tinha razão. A cor da calcinha era o que menos importava. O que importava mesmo era ela se sentir bem consigo mesma, independente de qualquer padrão.
Lari foi embora confiante, com o argentino gato ao lado, mas naquele momento, ficou claro que a noite era dela, não dele. Ela não precisava de uma calcinha vermelha para se sentir incrível. Ela era incrível de qualquer forma.
Beijos, Lari. Saudades de você.








Procuro uma amizade sincera com alguém que emprestar a calcinha vermelha em qualquer momento kkkk
KKKKKKKKKKKKKKK emprestar a calcinha foi longe demais 😂