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Calcinha


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Eu sou uma pessoa meio desapegada das coisas sabe. Ao mesmo tempo que gosto de tê-las, também não me importo muito se não as tenho. Uma alma livre, bicho sooooolto. Sabe como é? Mas essa liberdade eu fui descobrindo aos poucos, vivendo a vida.


Logo após me divorciar (pela primeira vez), decidi fazer minha primeira viagem sozinha. Eu tinha 26 anos e era muito verdinha na vida. Nunca tinha ido a uma balada sozinha, nunca tinha dado um PT daqueles. Minha terapeuta na época dizia: "Jessiquinha, você vai viver sua juventude agora". E foi exatamente o que aconteceu, meus amigos.


Minha primeira grande aventura foi no Rio de Janeiro. Bem, tecnicamente, não fui completamente sozinha. Fui com meu amigo de alma, Jairo. O Jairinho é aquele amigo que, às vezes, é um pai; outras, a maior má influência da sua vida. O equilíbrio perfeito.


Essa viagem rendeu várias histórias, mas vou me concentrar em uma noite específica de um pré-bloquinho de carnaval. Estávamos no centro do Rio de Janeiro, já com algumas Skol Beats na cabeça, acompanhando um bloquinho de carnaval noturno. Eu, Jairo e uma galera que conhecemos no hostel onde estávamos hospedados, em Ipanema.


A turma era bem eclética: eu, uma jovem cristã que mal tinha vivido, Jairo, que já tinha vivido tudo e mais um pouco, uma menina zen, esotérica e linda que exalava tranquilidade (vamos chamá-la de Lari), três argentinos e duas argentinas.


Depois de um tempo dançando no bloquinho, naquelas típicas bagunças de carnaval, Lari começou a se engraçar com um dos argentinos. Confesso, bateu até uma invejinha, porque ele era um dos mais GATOS do hostel. Mas beleza, é carnaval, né? Alegria, pegação, aquela coisa toda. De repente, Lari vira para mim e para o Jairo e solta:


– O argentino quer ir comigo pro hostel mais cedo.


Eu e Jairo, em coro: VAAAAIIIIIIII, MENINA!


– Mas, amigos, estou com uma calcinha bege. Não rola. Vai ficar feio na hora...


Agora, eu não sei o que deu na minha cabeça naquele momento. Talvez fosse a Skol Beats, talvez o calor do carnaval, mas me lembrei que estava usando uma calcinha vermelha e achei que seria uma ótima ideia oferece-la para uma completa desconhecida.

Na hora, sem pensar, soltei: "NÃO SEJA POR ISSO! Pega a minha calcinha, é vermelha!" E comecei a tirar para entregar.


Na minha cabeça, aquilo fazia todo o sentido. Só na minha cabeça, né? Porque, convenhamos, quem empresta uma calcinha assim do nada?


O Jairo, desesperado, começou a me impedir: "Veste, veste, veste, não precisa disso, maluca!" E a Lari... Bom, ela olhou pra mim, riu e disse: "Quer saber? Vou é com a minha calcinha bege mesmo! Quem tem que gostar sou eu, não ele!"


Eu caí na risada. Ela tinha razão. A cor da calcinha era o que menos importava. O que importava mesmo era ela se sentir bem consigo mesma, independente de qualquer padrão.

Lari foi embora confiante, com o argentino gato ao lado, mas naquele momento, ficou claro que a noite era dela, não dele. Ela não precisava de uma calcinha vermelha para se sentir incrível. Ela era incrível de qualquer forma.


Beijos, Lari. Saudades de você.


3 comentários

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Convidado:
31 de out. de 2024
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Procuro uma amizade sincera com alguém que emprestar a calcinha vermelha em qualquer momento kkkk

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Caladoperonomucho
Caladoperonomucho
31 de out. de 2024
Respondendo a

Minha mãe quase me matou, quando leu essa história. kkkkkk

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Convidado:
10 de out. de 2024
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

KKKKKKKKKKKKKKK emprestar a calcinha foi longe demais 😂

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